Outros entulhos

Vinícius Scarpin
2 min readSep 6, 2024

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O conhecimento sempre se dá por totalidade, em totalidade. Conhecimento é sempre do necessário. O necessário é sempre uma coisa. Uma coisa, contudo, é sempre envolta em uma totalidade. De tal forma que, sem essa totalidade, ela não é, não faz sentido.

Por exemplo, saber o que é chuva. O que é necessário saber para saber o que é a chuva? É necessário já previamente saber o que é o céu, nuvem, água, chão/terra, clima, queda etc. etc. etc.

Constata-se que, para saber o que é céu, precisamos saber também algumas coisas, seguindo o mesmo princípio. E, seguindo essa jornada, chegaremos a algo que é sabido em primeiro lugar. Que coisa é essa? O que é sabido em primeiro lugar? E que, sem essa coisa, não é possível saber nada? Ora, é de se considerar que, havendo essa coisa, ela, evidentemente, ou não é realmente conhecida, ou, se conhecida, é a única que não envolve uma totalidade.

Quando estudamos um assunto inteiramente novo, no começo nada daquilo faz sentido. As coisas não se encaixam. Não entendemos a lógica daquilo e, por isso, não nos sentimos autorizados a dizer que conhecemos. No máximo dizemos ter noções, ter idéias etc. Quando entendemos a lógica de algo, então estamos aptos a entender e deduzir, tirar conclusões dentro daquela coisa.

Com o tempo, então, começamos a ligar aqueles assuntos, ver a relação entre eles, suas interações etc. Seria a idéia de constelação. No começo vemos apenas estrelas soltas no céu, sem sentido. Com o passar do tempo vamos notando padrões, relações e percebemos que elas formam um todo, uma totalidade. É nesse momento que entendemos, que conhecemos. Ou melhor, que começamos a.

Uma frase que pensei anos atrás sobre a leitura de textos filosóficos explica isso: É necessário muito ler sem entender, para entender sem ler.

Reparei isso ao estudar Heidegger. No começo, eu lia, lia e lia e não entendia nada. Mas insisti, prossegui, continuei. Tempos depois, tendo lido vários livros dele, algumas peças começaram a se encaixar, comecei a perceber o que ele queria dizer. E aí voltei a reler alguns textos e, agora nutrido com mais informações (ou mesmo conhecimentos), as coisas faziam sentido. E é a partir desse momento que, mesmo sem ler, é possível entender.

Isso eu me lembro de professores na Universidade, quando especulavam o que um autor diria sobre um assunto em que realmente não disse nada. Ora, eles entendem os princípios gerais do pensamento daquele autor, a lógica, a ponto de, a partir disso, deduzir o que ele diria.

Disso eu penso que, para entender um filósofo, é necessário entender a necessidade do seu pensamento, ou seja, por que ele pensou o que pensou? O que o forçou a pensar o que pensou? E, além disso, entender o fundamento, os pressupostos que ele aceita. Se você encontrar apenas essas duas coisas, além de algumas definições elementares, é possível deduzir tudo o mais.

Em outras palavras, não seria necessário ler livros e livros para entender um autor. Seria apenas necessário ler e entender a necessidade, o fundamento e algumas definições. O resto é derivação.

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