Entulhamento
O conhecimento, quando se dá, se dá apenas com respeito a coisas necessárias. Com respeito a coisas possíveis, é possível apenas ter crença. Ou, em outros termos, o conhecimento se dá apenas com respeito a coisas, enquanto que a crença se dá apenas com respeito a acontecimentos.
Contudo, é necessário levar em consideração algumas questões.
Acontecimentos são possíveis. Logo, nada que aconteceu pode ser sabido?
Claro que pode ser sabido. A questão é, como?
Parece que estamos nos contradizendo. Em um momento dizemos que acontecimentos só podem ser cridos, e depois, que podem ser sabidos. Como superar essa aparente contradição?
Acontece que um acontecimento é coisificado »em nós«. E, por isso, ele pode ser e é conhecido.
Ainda sobre a cognoscibilidade de acontecimentos há o seguinte problema. O conhecimento, tal como a verdade, é a correspondência entre conteúdo mental e realidade. Assim, como poderia haver conhecimento acerca do passado, se as coisas que aconteceram não existem agora? Ou seja, não seria possível haver correspondência, pois o passado não é mais real, e, por consequência, não tem como haver correspondência entre o nosso conteúdo mental e a realidade. O nosso conteúdo mental corresponderia a algo passado, que foi real.
Assim, só haveria conhecimento acerca do presente enquanto presente. Ou, evidentemente, daquilo que é sempre [presente]. O que nunca se ausenta. Do eterno. Mas e o papel da memória? Muitas vezes dizemos não saber algo, não saber mais algo, pelo fato de tê-lo esquecido. A memória exerce um papel fundamental no conhecimento, tal como o entendemos.
Mas bem, um acontecimento passado é coisificado. Nessa coisificação ele é idealizado, abstraído. Tirado da realidade. Isto é, daquilo que supomos ser a realidade. E, assim, é totalmente entregue à idealidade. E a verdade é que todo o nosso conhecimento está nessa idealidade.