A vi [Poesia]
A láctea pele de raios purpúreos
Macia e lisa, onde desliza o vento
Encanta a vista de incontáveis olhos
Sequestra o afeto, congela o tempo
Quem de nós um dia imaginara
Que veria divina figura em vida
Quem de nós um dia sonhara
Que viveria sem temer a ida
Mas volta eternamente dançante
Em torno da roda gira a diva
Num ânimo vermelho e saltitante
Reluz em brilho, o lábio cativa
No cativeiro sou refém voluntário
Do sentimento que me arrebata
O encanto pelo extraordinário
Supera tudo, inclusive o nada
Dos infindos confins do eterno
Dos instantes incessantes do agora
Perambulo perdido no inverno
Esperando no verão a melhora
Ela por completo escapa ao sentido
Às sombras caminha serena
Sem sua luz fico perdido
A esperança se apequena
De largo sorriso e voz doce
Olhar que atravessa a alma
Quem dera se minha fosse
Só sua imagem me acalma
Em pensamento e delírio
Devaneio e fantasia
Aos meus olhos é colírio
Ao meu ímpeto, heresia
Quero o querer que quer
Tudo de uma vez agora
Quero que sejas a mulher
De senhorita à senhora